Diário de Cuiabá, 16/11/2007

Música Contemporânea

Compositores radicados em Mato Grosso foram selecionados e participam de um dos eventos mais importantes do mundo, em sua XVIIª edição

Claudio Oliveira
Da Reportagem

A Bienal de Música Brasileira Contemporânea é um dos mais importantes festivais do gênero no mundo. Sem dúvida, pela sua abrangência e duração, o mais importante do Brasil. A série de Bienais iniciou-se em 1975 e de lá para cá foram dezesseis, sendo a XVII preparada para este ano. A Fundação Nacional de Arte divulgou a lista dos 89 compositores cujas obras farão parte da programação da XVII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, a ser realizada entre os dias 21 e 30 de outubro, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. Os compositores homenageados deste ano são Mozart Camargo Guarnieri e José Siqueira. O evento que já é tradicional no calendário da música erudita no Brasil escolheu homenagear estes dois mestres, no ano de seus centenários: Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993) nasceu e faleceu em São Paulo e José Siqueira (1907-1985), fundador da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), nasceu em Conceição, Paraíba, e faleceu no Rio de Janeiro.

Foram inscritos 410 compositores, uma das maiores participações da história da Bienal segundo o maestro Roberto Victorio. A Comissão Julgadora foi composta pelos compositores Wellington Gomes, Ronaldo Miranda, Flavio Oliveira, José Augusto Mannis e Rodolfo Caesar, e pelos regentes Lutero Rodrigues e Norton Morozowicz.

Este ano Mato Grosso terá dois representantes na Bienal, o primeiro, o maestro Roberto Victorio que já é sócio do evento(risos), uma vez que esta é a 13ª participação do maestro. A outra selecionada é a compositora Cristina Dignarte. As peças selecionadas foram: Ciclo de Canções Voz e Violão, de Victorio e Meta-gestos da Cristina.

A peça do maestro é baseada na obra “Diário de um trapezista cego”, do poeta Jacinto Corrêa. Victorio nos conta que escolheu quatro poemas e musicou. Jacinto Corrêa é um poeta carioca veterano em livros independentes, foram seis até hoje, sendo o último deles o supra-citado, que inclusive pode ser ouvido sendo declamado no youtube.com. Esta será a primeira execução da peça, portanto a primeira audição mundial.

A peça da Cristina é uma peça eletroacústica, o que significa que não há instrumentos ou mesmo músicos em performance. A peça é feita a partir de recortes sonoros que dão segundo a compositora a noção do gestual instrumental. “Quando pensamos em gestos logo recheamos de sentido o movimento gestual do músico com seu instrumento”, mas o que fazer quando não há músicos tocando ao vivo? A compositora nos conta que é essa a idéia ou conceito da peça “Meta-gestos”, ela passa justamente a idéia do movimento gestual, sem os gestos propriamente, por isso o termo meta. Esta peça já foi executada na Bienal de MT e também em Goiás, sendo a primeira audição da mesma no RJ.

Aberta a todas as correntes estéticas e a todos os estilos da música brasileira, a Bienal constitui um espaço permanente e abrangente de conhecimento e intercâmbio da produção musical recente do país, nos gêneros de música sinfônica, de câmara, coral, eletroacústica e multimeios. Criada em 1975, por Edino Krieger e Myriam Dauelsberg, a partir de 1981 passou a ser realizada pela Funarte, tornando-se um de seus programas mais emblemáticos. Os eventos já realizados apresentaram mais de 940 obras de cerca de 300 compositores, dos quais 255 ainda estão em atividade.

Este ano também teremos um aspecto relevante é a veiculação das gravações sonoras dos concertos. Anteriormente elas ficavam depositadas nos Centro de Documentação da Funarte; a partir do próximo ano, elas serão disponibilizadas para todo o mundo através da Rádio Virtual que está sendo implantada nesta Fundação. Essa difusão alcançará, também, todas as obras executadas nas Bienais anteriores, a maioria das quais foi gravada.