A RESPEITO DO TRANSE Todo artista atua procurando iludir o tempo. A cada obra-prima a suspeita de ter tocado (ou varado) o ventre oco de Deus. Quando o tempo foi enganado: a tênue impressão de que se o teve sob as mãos. O segredo de todo artista está na mais estreita verdade de que ele nada cria, apenas expõe-se. Assim, acontecem de maneira natural a autodenúncia, o auto-respeito, o auto-elogio, a autodemência, o autoprazer, o autodesleixo. E nada mais solitário e perfeito que o instante do transe. A arte, por si só, inexiste. Ela é arrancada de cada hora, de cada olho, de cada morte, de cada ressurgimento: mas não é inventada. Todo artista já nasce composto de espantos. Quando dá conta do medo já se afogou. Quando nada percebe recolhe frutos como se apenas tivesse a fome. A ele não é dado o direito da escolha – universo falsamente livre e largo onde pisa. Enquanto veículo o artista oferece a expressão do corpo. A alma jamais lhe pertenceu. CASA O café ainda não é feito às pressas Penso que ainda não é tempo de enfraquecer Uma parte do futuro Histórias.
CADEADO Solidão da voz: sem palavra Unem-se as fibras da língua Mas os dentes impedem a saída.
O murmúrio, então, propaga-se (.) (Há resistência sã na espera?) ANTROPOLOGIA Na janela que fechava
PEDAÇOS IV Um encontro RETROCESSOS O menino, de dentro do ônibus, acena para ninguém na rua. Como se lá estivesse alguém que lhe conforta a dor, alguém que lhe faz falta. Mas não há nada. O ATO CALADO Então te perco mesmo assim O delicado abandono não ameniza. Não convidei para a última dança. PARTILHA Você detém a memória. Na dolorosa divisão de bens INTERLÚDIO Sobram misérias. Sobram-me rancores e Não digo nada de novo.
VENTRES
A mulher do norte a do centro a do sul Américas A primeira mãe a segunda
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