OS NOTÁVEIS

Como será ser um notável? Que regalias e limitações este título trará?

A TV me mostra tantos notáveis e, às vezes, não entendo por que são notáveis. Vai ver têm a capacidade extra-sensorial de enganar os outros com teorias que, se não verdadeiras, também não podem ser rebatidas. Jesus Cristo era um astronauta. O homem veio do mar. Os discos voadores dormem debaixo da terra. Prefiro crer que os notáveis realmente são donos de tais verdades e de seus conhecimentos, e que estão a serviço da evolução da humanidade.

Não sei se gostaria de ser um notável, mas que é um nome muito elegante lá isso é. Se eu fosse um notável, só me vestiria com roupas extravagantes, cravadas de frases-feitas, como “A vida é o que nos parece. Quando nada parece, estamos à beira de morrer”.

Senhor! Melhor deixar essa responsabilidade para os naturalmente notáveis. Esses sim, andam como querem, comem como querem, amam como querem e dizem o que querem sem o menor constrangimento, porque nasceram e são notáveis – ainda que eu não entenda direito suas mensagens científicas, religiosas ou existenciais. Mas respeito, juro que sim.

Só me incomodam os falsos notáveis, aqueles que não deixam dúvidas de sua canastrice, fazendo do português um idioma quase desconhecido, não sabendo ao menos dizer a profissão que exercem (uma hora modelo; outra, atriz, quem sabe, um dia, “num passado próximo”, cantora). Socorro. Quando os vejo em ação – verdadeiro filme de terror -, meu rosto queima em vermelhidões, tapo os olhos com a primeira almofada que encontro e sinto, por eles, uma imensa e devastadora vergonha. Desligo a TV e peço desculpas, em nome de cada um deles, ao primeiro Deus que chega para embalar o meu sono.

2008