CONSOLO

Ah que saudades do tempo em que alguém se preocupava comigo e com o meu futuro. Como se dissessem: relaxa e aproveita enquanto pode ser livre. Mas não. Usufruí muito pouco e mal desse privilégio, sempre querendo me emancipar a tudo. Responsabilidades e mais responsabilidades que sobre os ombros eu colocava sem que pedissem.

Hoje, renego com veemência expressões do tipo “Viu como ele é adulto para a idade que tem?” ditas por pais ou amigos de pais que acreditam ser a maturidade antecipada um sinal de inteligência superior ou de boa criação. Qual a vantagem disso? Nenhuma. Apenas impedir que a criança tenha o tempo de ser criança e não se preocupe com o que não precisa se preocupar.

Ah como eu queria voltar no tempo e me deixar ser cuidado por quem queria cuidar de mim. Dormir um tantinho a mais, chegar atrasado à primeira aula, arriscar um tantinho a mais, passar uma tarde inteira assistindo à TV sem culpa de não estar estudando.

Como o tempo não volta, melhor sentir alívio em não ter sido pai. Já pensou se, sem querer, eu sentisse orgulho em ouvir um amigo dizer ao meu mais velho “Tome conta do seu irmão mais novo. Você é quase um rapazinho...”?

 


2009