EU SÓ QUERIA UMA ÁRVORE PARA ADMIRAR

Eu só queria uma árvore para admirar, mas o mundo me entregou as suas montanhas como se dissesse: cuida. Tudo por demais grande, desnecessária ambição. Nunca sei o que fazer do tanto e me perco entre erros e acertos.

Ainda lembro a simplicidade do meu primeiro desejo – uma praia deserta – logo invadido por faróis e buzinas que prometiam a estrada. Fui a todos os lugares e nada me encantou a ponto de pertencer: a estrada não tem começo ou fim. Eu deveria te ficado à primeira cadeira onde pude descansar e simplesmente esperar a vida passar. Na verdade não me recordo de ter leventado, apenas de já estar correndo entre homens, estrelas, palavras, tanta coisa querida e nefasta.

Invejo as mães de família, felizes no ofício de fazer os filhos crescerem com saúde. Invejo missionários e religiosos que dão a vida à fé. Invejo ermitões e solitários. Eu deveria ter tido a coragem de dizer não ao que me levou. E o fato de não ter dito pouco alivia. É tudo rápido e intenso demais para quem só queria uma árvore para admirar. Seria bom, ao menos, poder morrer sem a obrigação de frutos sadios em meu colo.

2009