A LUTA CONTRA OS HOMENS ARDILOSOS

As armadilhas são sórdidas. Os homens ardilosos se multiplicam com muita facilidade; a maioria daqueles que os reconhecem ardilosos em vez de vencê-los, os teme. Eu mesmo, de tão cansado que estou, preferia estar retirado a uma casa pequena, um pequeno jardim, o que satisfaria a minha pequenez solidária ao mundo. No entanto, a casa, o jardim e a minha pequenez solidária ao mundo ainda estão distantes, porque sou compelido a lutar contra os homens ardilosos e suas sórdidas armadilhas.

Se um dia derrotá-los, perderei o medo, e de meus sonhos poderei desfrutar. Uso da verdade, da mentira, de artifícios e principalmente do silêncio com os olhos em lâminas para enfrentar os homens ardilosos. Que muitas vezes assumem altos postos, constituem famílias temporárias, pensam com a falsa eternidade do poder, calçam sapatos de crocodilo e comem carne humana. Quão difícil é lutar contra eles e seus hábitos nocivos. Mas sonho com o que ganharei – uma casa pequena, um pequeno jardim e uma pequenez solidária ao mundo – para continuar os combatendo.

Hoje, como qualquer outro dia, travarei mais uma batalha. Meu único temor é a guerra não ter fim e eu não poder alcançar meus objetivos reais. Mas é o ânimo, mais do que a manhã, quem me acorda, me ajuda a acertar o nó da gravata e a me dar pés e mãos justos para ir à luta. Justos? Guerreiros. Novamente, nos corpos sem espírito dos homens ardilosos despejarei meu desprezo, mas desta vez sem o pudor de para sempre poluir seus mares, praias e herdeiros.

Não passará de hoje o fim dos homens ardilosos e suas máquinas e pensamentos de destruir o tempo. Aniquilarei cada um com fulminantes olhares do atirador de facas amador que há em mim e que erra, não, acerta o alvo e satisfeito vê o sangue correr como um rio a caminho do mar. E comandante do próprio barco de minha vingança saciada, chegarei ao porto de minha casa pequena, de meu pequeno jardim e de minha pequenez solidária ao mundo.

Para não me dizer desumano, ensinarei a meus filhos o nome de todos os homens ardilosos que conheci e venci. E pedirei que batizem seus próprios filhos com o nome de cada um deles para assim limparem de vez da face da Terra a maldição que um dia sobre nós se abateu. Os homens ardilosos finalmente estarão enterrados, pelas mãos de meus netos, e a minha casa pequena, o meu pequeno jardim e a minha pequenez solidária ao mundo serão a herança mais valiosa e digna que deixarei.

2008

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