SER DA POSSE DE ALGUÉM: REVELAÇÕES

Em algum atalho do tempo lhe será revelado o que a mim foi imposto e aceito tão cedo: logo nas primeiras horas em que me descobri seu: aprendi que ser da posse de alguém é um destino. Todo o meu medo fugiu: e eu juro por Deus que ele fugiu: e amanheci frisado de nuvens transparentes mas brilhantes. Conheci a posse assim: uma espécie de sonho que se pisa: sem a culpa de esmagar flores. E lembro que acordei: só para lhe confessar a posse. “Será? E se for mesmo assim? E se for mesmo assim haverá perdição”: disse antes de voltar a adormecer tão profunda e pesadamente. Nunca mais quis ouvir sobre a posse: tão assustado que ficou em se perder de vez num horizonte: que poderia virar um abismo: que poderia. Ser da posse de alguém era o fim espacial do mundo.

Passo a vida a lhe ofertar poemas de amor: renegados pela desconfiança de que tentam impor uma eternidade. Pena não saber que nada há de insuportável em ser da posse de alguém: quando se é. Que pouco adianta trancar as portas do sono: um dia a casa cai: e as paredes revelam-se: rio: que me leva: e me deixa ser: dito. Meu nome: a correta palavra na boca do anjo mensageiro.

Se um dia a razão adoecer: grite: e quebre todos os portais: assim: com os olhos: e as mãos: e me invada a casa perseguido por borboletas azuis. Peça para ficar: pelo amor de um deus desconhecido e anunciador: peça para ficar. Que nada mais faz o sentido necessário: a não ser o colo: ou a sombra do colo: ou a exaustão de não importar pedir o colo. Há tanto meu ventre espera absolver seu cansaço.

1993