PEDAÇOS 1

Longos textos me cansam.
Escrever deve ter
mesmo
a breve eternidade de uma respiração.

PEDAÇOS 5

Todo mundo na rua se protegia.

Mas eu queria a chuva
Mas eu queria a chuva
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “
“ “ “ “ “ “ “

que te fazia querer proteção.

PEDAÇOS 7

Não demos as mãos.
Se os dedos se entrelaçassem
nunca mais amanheceria.

PEDAÇOS 28

Tesouras enferrujadas
rasgam os tecidos do céu.
Chovem adiante
tão próximas a mim
todas as saudades partidas.

PEDAÇOS 29

Deus inventou a felicidade
para eu ter com o que me atrapalhar.

PEDAÇOS 34

Não mais tecerei compromisso
nem mesmo com o que há de melhor.
Me permitirei uma liberdade estranha e vulgar
exercício de um tanto da dor
acrobacia de um esforço sem tamanho.
Terei trabalho.
É que em meio a toda pressa
não sei esquecer o bilhete de metrô em casa.

PEDAÇOS 38

No sonho, me dizia:
“Não me culpe por estar vazio de você”.

Eu não culpo.
É a poesia que lamenta.

PEDAÇOS 49

Não me venha com desculpas.
Apenas venha.


PEDAÇOS 80

Todo encontro é sempre
um jogo de grandes riscos.

De olhos tão abertos mergulhei
para ver o mar que não se vê.
Eu vi.


PEDAÇOS 83

Em algum distante porto
guarde o bom senso
para se perder em mim.

No amor não basta que um esteja cego.